O Choro nosso de cada dia
O dicionário aponta o significado de mistura como resultado de muitas coisas postas em conjunto. Se formos investigar na disciplina da química é a associação de muitos elementos, que se tornam indistintos sem formar uma combinação.
Na música, mistura pode ser Choro, Chorinho, o ritmo mais brasileiro de todos, mais cheio de sol e feijoada, de rodas e conversas, de influências e originalidade. Quando digo o mais brasileiro de todos, não desmereço nenhuma outra expressão, me refiro apenas à sua extensão territorial e a este tapete sonoro que é capaz de cobrir, com alguma característica unânime, o nosso chão nacional de leste a oeste, de norte a sul – mais que o samba, eu acho, porque as possibilidades do samba acabam por proporcionar que em cada lugar ele seja de um jeito bem diferente.
Música europeia de salão, música popular portuguesa e música popular africana são os elementos que mais se destacam na mistura que originou o Choro que, como gênero, só tomou forma na primeira década do século 20, mas sua história começou antes, bem antes.
Citar chorões, apontar suas diferenças, caminhar pelos diversos ambientes, entre os quintais e a academia, em que o gênero se multiplica e tratar do assunto mirando numa responsabilidade de informar de maneira completa foi uma fantasia abandonada na primeira frase deste texto. Prefiro citar Ary Vasconcelos: “Se você tem 15 volumes para falar de toda a música popular brasileira, fique certo de que é pouco. Mas se dispõe apenas do espaço de uma palavra, nem tudo está perdido; escreva depressa: Pixinguinha”.
É a data que comemora o nascimento de Pixinguinha, 23 de abril, a que se transformou em Dia Nacional do Choro, porque talvez seja ele o nosso chorão mais amado, mais elegante, mais reconhecível, mais pop, mais inesquecível.
Mas se dá para, mesmo que de um jeito meio desengonçado que acaba por incentivar injustiças e ao mesmo tempo o contrário disso, dizer que Pixinguinha é o pai do Choro, o gênero precisa de uma mãe. E o nome dela é Chiquinha Gonzaga, a primeira chorona, mas a primeira pianista do gênero.
De Pixinguinha e Chiquinha nasceram todos os chorões, incluindo aqueles que vieram antes. E todos se espalharam por rodas, bares, salas de concerto, discos, rádios, universidades, palcos no mundo inteiro. E todos tiveram muitos filhos. E todos multiplicaram notas e acordes. E todos inventaram, improvisaram, repetiram. E todos são donos, por herança e construção, do que desde 2024 figura como Patrimônio Cultural do Brasil, uma legenda bonita, tardia e redundante do que todos já sabiam.
Como Patrimônio Cultural, o conjunto formado por bandolim, flauta, violão 7 Cordas, pandeiro, cavaquinho e clarinete é o reconhecido e aprovado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Como realidade, numa roda de Choro sempre cabe mais um.
Por: Adriana Sydor